sexta-feira, 20 de março de 2009
JULIETTE GRÉCO
Nascida Marie-Juliette Gréco, em Montpellier, França, no dia 07 de Fevereiro de 1927, Juliette Gréco é uma cantora e atriz francesa.
Filha de mãe oriunda de Bordéus e de pai corso, Juliette Gréco passou os seus primeiros anos de vida, juntamente com a sua irmã mais velha, Charlotte, educada pelos seus avós maternos, em Bordéus.
Criança muito tímida e reservada, parte com 6 anos de idade, juntamente com a irmã e a mãe para Paris, repartindo os seus tempos entre a cidade, o colégio de freiras onde estudava, e as férias na Dordogne numa propriedade da família. É nesta região que, após o início da Segunda Grande Guerra, a mãe de Juliette é presa pelos nazistas devido às suas atividades na resistência. Algum tempo depois será a vez Juliette, com apenas 16 anos, e a irmã serem também presas pela Gestapo. Ao ser libertada após um mês, fica alojada em casa de uma antiga professora que habita perto do bairro de Saint-Germain-des-Prés, associado à intelectualidade parisiense.
É neste mesmo bairro de Saint-Germain-des-Prés que participa do ambiente de descompressão do pós-guerra, integrando-se rapidamente no grupo de intelectuais e artistas que frequentavam os bares e cabarés do local. Em 1946 (com 19 anos) tem a sua estreia como atriz numa peça de teatro de Roger Vitrac, "Victor ou les enfants au pouvoir". Presença assídua no Le Tabou, inaugurado em 1947, mas rapidamente transformado num dos cabarés da moda, veio ali a conhecer nomes famosos como Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Boris Vian, Jean Cocteau e Miles Davis.
"Sua voz tem milhões, milhões de poemas que ainda não foram escritos", Jean-Paul Sartre sobre Juliete Gréco.
Neste ambiente conheceria também Jean-Paul Sartre que lhe ofereceu uma canção de uma das suas peças (cantada pela personagem Inès em Huis clos de 1944), no dia seguinte a um jantar no "Cloche d'or" em Saint-Germain. Juliette seguiu o conselho de Sartre conseguindo que a letra fosse musicada por Joseph Kosma.
Esta canção de Jean-Paul Sartre seria apenas uma do rico reportório cedido por muitos outros amigos e admiradores, e que cantaria na sua primeira apresentação pública em 22 de Junho de 1949, na reabertura do cabaré L’œil de Bœuf (antigo Le Bœuf sur le toit). Desde o início foi um sucesso junto dos frequentadores da vida noturna parisiense, até pela combinação de uma forma de cantar sentida, com um toque sensual realçado pelo vestuário, geralmente preto, e pelos seus longos cabelos escuros.
Logo no ano seguinte, a 4 de Junho de 1950, Juliette Gréco conquista o Grande Prémio da Sacem (Associação francesa de cantores e compositores) pela sua interpretação de "Je hais les dimanches" (letra de Charles Aznavour, música de Florence Véran). Apesar de todo este sucesso junto de setores mais intelectuais, Juliette só viria a ser conhecida pelo grande público quando da participação no filme "Orphée" de Jean Cocteau em 1949.
Em 1951 grava o seu primeiro single com a canção "Je suis comme je suis" escrita por Jacques Prévert e musicada por Joseph Kosma, que se tornaria um clássico do seu reportório. Em 1952 vai para o Brasil e os Estados Unidos e, após o seu regresso, excursiona também pela França onde a sua forma de cantar e presença em palco atraem muito público.
O Olympia verá a sua consagração em 1954, ano em que conheceu o seu futuro marido, o actor Philippe Lemaire, durante a rodagem do filme de Jean-Pierre Melville "Quand tu liras cette lettre". O casamento duraria pouco mais de um ano, tendo o casal se divorciado em 1956, pouco após o nascimento da filha Laurence-Marie. É nesta época que conhece Georges Brassens de quem canta "Chanson pour l'auvergnat" e Jacques Brel de quem canta "Le Diable".
A sua carreira progride em vários sentidos, a canção, o cinema, o teatro. Seu retorno aos Estados Unidos, e a Nova Iorque em particular, fez com que ela tivesse notoriedade no meio artístico, o que lhe abriu as portas de Hollywood. Lá ela conhece o produtor Darryl Zanuck, durante a rodagem do filme "The sun also rises" de Henry King (1957). Nesta passagem por Hollywood convive com nomes como John Huston e Orson Welles (com quem contracena no filme "Drame dans un miroir" (1960).
Retorna à França descobre e divulga novos talentos, que convida para escreverem algumas das suas canções. É assim que ficaram conhecidos nomes como Serge Gainsbourg("La Javanaise") ou Léo Ferré ("Jolie Môme")*.
Em 1965, alcança o auge da fama ao desempenhar papéis importantes em séries televisivas "Belphégor" e "Fantôme du Louvre". Apesar disso entra numa profunda depressão e tenta o suicídio. Recuperada, retoma a carreira e em 1966 actua no TNP(Théâtre National de Paris) na companhia do seu amigo que Georges Brassens, que muito admirava.
Em 1967 casa-se com Michel Piccoli, que seria seu marido até 1977. Ainda em 1967 grava a sua versão da "La chanson des vieux amants" de Jacques Brel. Em 1968 inaugura as sessões das 18:30 no Théâtre de la Ville em Paris, cantando uma das suas mais famosas canções, "Déshabillez-moi", com uma interpretação em que ressalta o seu lado mais sensual.
Prosseguem as suas viagens pelo país e exterior, inclusive pela Alemanha e pelo Japão, sempre com grandes sucessos reforçados por uma notável presença em palco. Em 1989 casa-se com o seu pianista e orquestrador Gérard Jouannest, que, apresentado por ela, havia trabalhado durante anos com Jacques Brel.
Em 1999 o governo francês atribui-lhe as Insígnias de Oficial da Ordem nacional de Mérito.
Prosseguindo num intenso ritmo de atuações, vem à Lisboa cantar em Janeiro de 2001, mas em Maio tem um problema cardíaco durante um concerto em Montpellier. Recuperada retoma às excursões.
Em Fevereiro de 2004, já com 77 anos de idade, obtém um novo êxito no Olympia, onde reencontra uma vez mais o seu público fiel.
Imparável, edita em Dezembro de 2006 um novo álbum intitulado "Le temps d'une chanson", onde inclui várias canções que cantou ao longo da sua carreira.
A MUSA DO EXISTENCIALISMO
Juliette Gréco ficou conhecida como a musa do existencialismo, pois interpretou canções com temas relacionados a esta abordagem filosófica, foi amiga de Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) e de Albert Camus (1913 – 1960), além de viver o período de maior efervescência do existencialismo, na França. Além disso, mantinha um comportamento que condizia com as perspectivas teóricas que os autores existencialistas defendiam, contestando os valores morais impostos pela sociedade tradicional, na qual estava inserida. De forma geral, foi uma mulher de atitudes emancipadas, foi atriz, cantora, se apresentou em cabarés e, no interior das canções que interpretava, havia um discurso coerente com o momento histórico em que vivia e com a crítica feita pelos existencialistas a este período.
O comportamento emancipado de Juliette Gréco se sustentou na emergência de uma mudança de atitude que estava sendo impulsionada pelas novas abordagens intelectuais que ocorriam no mundo, e mais especificamente, na França, no período que se estendia de 1930 a 1960. Dentre essas perspectivas intelectuais, merece destaque o existencialismo francês. O diferencial dessa abordagem teórica é que além de ser uma corrente filosófica, ela promove uma mudança de comportamento, ou seja, tornou-se um modo de vida, uma atitude do ser, por estar sustentada na subjetividade do indivíduo, nas suas decisões diante do mundo mecânico e complexo. Em decorrência dessa necessidade de uma atitude pró-ativa, o existencialismo passou por um período de vulgarização, sendo mal compreendido pelos seus simpatizantes que não assimilaram seu teor de responsabilidade individual. O próprio Sartre alertou para a banalização do termo existencialismo. Em "O existencialismo é um humanismo", ele afirma que, “a maior parte das pessoas que utilizam este termo ficaria bem embaraçada se o quisesse justificar: tendo-se tornado hoje uma moda, é fácil declarar-se de um músico ou de um pintor que é existencialista. [...]. Parece que a falta de uma doutrina de vanguarda, análoga ao surrealismo, as pessoas ávidas de escândalo e de agitação voltam-se para esta filosofia, que, aliás, nada lhes pode trazer nesse domínio; na realidade, é a doutrina menos escandalosa e a mais austera possível.”
Segundo a idéia acima levantada por Sartre, pode-se afirmar que a musa do existencialismo não teorizava sobre essa abordagem filosófica. Na verdade, ela interpretava as canções que abordavam temas desta tendência filosófica, como a angústia, o absurdo, a rotina, o tédio, o sentido do ser, a ruptura com os valores morais, e outros.
Levando uma vida noturna fértil, sustentada por uma rica produção musical e por seu comportamento excêntrico, Juliette Gréco se destacou em decorrência de sua excepcionalidade no meio artístico-cultural de sua geração, chegando ao ponto de manter relações estreitas com os teóricos e escritores existencialistas que conviviam no seu ambiente de trabalho. Enfim, seu talento, sua excentricidade e a amizade que a cantora tinha com grandes escritores e filósofos garantiu-lhe a referência de musa do existencialismo.
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